Balbina
Fortunata da Silva, nasceu em 31 de março de 1902, em Itatiaiuçu, filha de
Severiano Calixto da Fonseca e Maria Fortunata da Silva. Casou-se em Itaúna, em
22 de outubro de 1921, aos 19 anos, com José Alexandre de Souza, que era então
lavrador e contava apenas 23 anos.
Da
união entre eles nasceram quinze filhos, quatro dos quais falecidos ainda muito
novos: Maia de Lourdes Viana, a Preta, viúva de Antônio de Araújo, que teve 9
filhos; José Alexandre de Souza, casado com Terezinha, que teve 13 filhos;
Paulo Alexandre de Souza, falecido, casado em duas núpcias, pai de 10 filhos;
Norma Fonseca de Souza, divorciada, sem filhos, a famosa “Norma da Escola
Normal”; Edison da Fonseca, que foi casado com Iracema, pai de 7 filhos;
Cleonice da Fonseca, casada com Carlos, mãe de 6 filhos; Oscar da Fonseca,
falecido, casado com Lúcia Teixeira, pai de 4 filhos; Marlene Fonseca da Silva,
solteira; Arlete Fonseca, viúva de José Nascimento, mãe de 3 filhos; Valdete
Fonseca, solteira; e, Jarbas Fonseca de Souza, viúvo de Marlete, pai de 3
filhos.
Balbina
era daquelas mulheres notáveis, até difícil de se encontrar hoje em dia!
Guerreira, valente, viveu sempre para ajudar as pessoas, ainda que muitas e
muitas vezes isso tenha exigido sacrifício dos filhos e até do marido, de quem
nunca acobertava falta ou deslizes. Administrava o lar, a conduta do marido e a
educação dos filhos com mão de ferro, mas, sem se esquecer nunca do amor e
carinho que nutria por todos!
A
honestidade e a caridade eram os seus maiores predicados. Mal sabia ler e
escreve, mas, aprendeu muito: na escola da vida foi “professora” com
“pós-graduação e mestrado”. Enfrentou a vida com a valentia própria dos
pioneiros ou desbravadores e nunca se comparou com pessoas, acima ou abaixo do
que foi. Nunca se esmoreceu e nunca se ouviu dela uma só palavra de reclamação
de enfrentar todos os desafios que a vida lhe colocou no caminho.
Nunca
tomou uma atitude que pudesse render discriminação aos seus filhos. Pelo
contrário, dizia sempre que, pela origem de todos, raça, cor, nível social ou
escolaridade, não deviam aceitar qualquer preconceito ou discriminação. Dizia
sempre para eles: somos pobres, mas devemos ser honrados e honestos.
Balbina
foi parteira das mais conceituadas e solicitadas em Itaúna, ajudando centenas
de cidadãos itaunenses a vir ao mundo. Acolheu em sua casa muitos doentes,
pessoas mais pobres. Quantas e quantas pessoas com enfermidades ela socorreu,
encaminhando a médico e hospitais ... A porta de sua casa estava sempre aberta,
sem qualquer distinção que fosse. Era também arrumadeira de defuntos, o que
fazia com todo o respeito à família, resguardando-se naquele momento de dor dos
familiares.
Gostava
muito da política e participava ativamente dela aqui em Itaúna. Enfrentava
abertamente os adversários políticos em favor de seus candidatos preferidos.
Porém, costumava dizer, sempre, que tinha adversários políticos, mas nunca
políticos inimigos. Não se conformava com injustiças ou mal tratos aos que se
mostravam fender seus direitos ou a luta pela vida.
A
criação de seus filhos foi um capítulo à parte em sua vida. Entendendo que o
marido não tinha como criar sozinho uma prole tão grande, foi à luta para
ajudá-lo. Viajava pelas redondezas comprando ovos e frangos que ia revender em
Belo Horizonte, onde conquistou um grande círculo de amizades. Era a “Dona
Balbina”, que podia entrar em qualquer mansão belorizontina, sendo recebida por
pessoas de alto nível. Nessas casas, era convidada a almoçar e assentar-se à
mesa com os donos e seus filhos, sendo tratada com carinho e respeito. Nessas
viagens a Belo Horizonte há de se destacar um fato peculiar: Balbina detestava
sapatos ou chinelos e, por muitas vezes, foi e voltou a Belo Horizonte
descalça.
Na
capital mineira tornou-se amiga de grandes chefes políticos, como Israel
Pinheiro e Tancredo Neves, dos quais frequentava a casa toda vez que podia.
Para comprar, tinha crédito em toda a cidade, pois sua honestidade a precedia:
não havia uma casa de comercio que não lhe fiasse qualquer mercadoria, pois a
certeza do recebimento era total. A honestidade financeira e de princípios era
sempre a maior lição que ela achava que tinha de passar para os filhos. Estes,
continuaram a honrar o predicado maior da mãe, tornando-se todos cidadãos
íntegros, que muitos contribuíram, cada um a seu modo, para o desenvolvimento e
o crescimento de nossa Itaúna.
Destacou-se
como uma pessoa que nunca levava desaforos para casa - era brigadeira mesmo! - masque, inversamente, nunca deixou um inimigo
para trás. Hoje, mesmo depois de tantos anos de seu falecimento, é lembrada com
carinho por muitas pessoas itaunenses. Deu grande exemplo de vida e deixou para
os filhos um nome íntegro, orgulho de toda a prole.
Foi
valente até mesmo na morte, nunca se deixando abater pela doença que a consumiu
pouco a pouco, por mais de uma no. Falecida em 20 de dezembro de 1975, aos 73 anos de idade, seu
sepultamento foi dos mais concorridos na cidade. Os filhos se assustavam com a
quantidade de gente que se aproximava e dizia ter recebido uma ajuda ou favor
da Balbina, pessoas que eles mesmo desconheciam como favorecidos por ela.
Nasceu
pobre e dizia ter chegado ao fim de sua vida rica, pois havia conquistado um
teto para deixar para que os filhos morassem, muitas amizades e se tornara uma
vencedora frente aos obstáculos cotidianos.
Só
e somente a morte foi capaz de abatê-la na sua luta pela vida!
Parecendo
que estava adivinhando a sua hora, ela publicou na antiga FOLHA DO OESTE, um
agradecimento:
Obrigado Senhor! Pelos 73 anos que me
deste de saúde, sem nenhuma dor de cabeça, 54 anos de casada, criando meus 11
filhos, dando morada para todos, me destes tudo que desejei. Eu pedi quando me
desse uma enfermidade me desse também paciência e até isto eu recebi. Quando eu
tiver de morrer, dê-me uma doença que eu não sinta muita dor, pois não irei
lutar contra o Senhor!
Balbina do
Severiano
Itaúna, 5 de
setembro de 1975
Referência:
Revista de Itaúna: Mulheres Notáveis. Ano IV– Ed.05,2007, p.5.
Pesquisa e Organização: Charles Aquino
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