domingo, 24 de março de 2024

COMÉRCIO TRANSATLÂNTICO


    Dia 25 de março — "Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos" é reconhecido pelas Nações Unidas. Esta data significativa serve como um lembrete dos esforços globais em curso para erradicar as injustiças enraizadas no comércio de escravos. Enfatiza também o papel crucial da educação no reconhecimento do profundo impacto deste acontecimento histórico na nossa sociedade moderna e na abordagem das suas consequências duradouras. Ao longo da história, mais de 15 milhões de indivíduos, incluindo homens, mulheres e crianças, foram transportados à força através do Atlântico.
    Numa mensagem de vídeo, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, enfatizou a importância de honrar a memória dos milhões de indivíduos afrodescendentes que suportaram as atrocidades da escravatura e do comércio transatlântico de escravos. Salientou ainda que este comércio estabeleceu e perpetuou um sistema mundial de exploração que persistiu durante mais de quatro séculos, devastando profundamente famílias, comunidades e economias.
    Ao refletir sobre a resiliência daqueles que sofreram sob a crueldade dos traficantes e proprietários de escravos, Guterres reconhece as contribuições significativas feitas pelos indivíduos escravizados para a cultura, o conhecimento e as economias dos países para os quais foram transportados à força. Embora o comércio transatlântico de escravos tenha terminado há mais de dois séculos, o chefe da ONU reconhece que as ideologias prejudiciais da supremacia branca que o alimentaram ainda persistem hoje.
    Guterres sublinha a necessidade urgente de desmantelar as consequências duradouras da escravatura e do comércio transatlântico de escravos, combatendo ativamente o racismo, a injustiça e as desigualdades, e promovendo comunidades e economias inclusivas que proporcionem oportunidades iguais para todos viverem em paz e dignidade.

Secretário-geral da ONU, António Guterres



Censo em 1831 Sant'Ana do Rio São João Acima (Itaúna/MG)



Referências:
Organização, texto e arte: Charles Aquino

ONU News: https://news.un.org/pt/story/2021/03/1745582

UFMG Cedeplar - Poplin-Minas

Imagens ilustrativa: Johann Moritz Rugendas

Imagem Ilustrativa: MultiRio – História do Brasil, O tráfico negreiro. "Os compartimentos de um navio negreiro. Gravura publicada em 1830 no livro Notices of Brazil in 1828 and 1829, de R. Washl. Domínio público, Arquivo Nacional – Ministério da Justiça".

 

sexta-feira, 22 de março de 2024

DISCRIMINAÇÃO RACIAL

Todos os anos, no dia 21 de março, é (re)lembrado o Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. A Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu esta data em memória das manifestações contra a Lei do Passe na África do Sul. Foi neste dia de 1960 que eclodiram os protestos contra a lei que impunha restrições à circulação da população negra. Infelizmente, estes protestos foram recebidos com força brutal por parte do exército sul-africano, resultando no trágico “massacre de Sharpeville”, onde 69 pessoas perderam a vida e outras 186 ficaram feridas. Reconhecendo a importância deste evento, a ONU declarou oficialmente o dia 21 de março como um dia para aumentar a conscientização sobre a discriminação racial em 1966.

Após o ano de 2023, o dia 21 de março também passa a ser (re)lembrado como o Dia Nacional das Tradições de Raízes Africanas e das Nações do Candomblé. A Lei 14.519/23 foi sancionada em 2023 pelo presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva.


Referências:






Imagem Ilustrativa: Pinterest

Organização e Pesquisa: Charles Aquino


sábado, 9 de março de 2024

AFRO-ITAUNENSES

Como cidadão itaunense e descendente de herança afro-brasileira, senti-me obrigado a sair da zona de estudos e expressar publicamente minha preocupação e indignação. Acredito que a frase acima não confrontou apenas a narrativa histórica do  município de Itaúna, mas também a ancestralidade de seus habitantes, que inclui a escravização de minha trisavó paterna, o nascimento da minha bisavó após a promulgação da Lei do Ventre Livre, e o eventual nascimento de meu avô, que só conseguiu o direito ao registro oficial de nascimento aos 25 anos em 1937, que posteriormente fixaram residência em Itaúna, local de descanso final de uma jornada marcante, deixando um valioso legado para seus descendentes — o direito à educação. 
   
Ao realizar pesquisas rotineiras para elaboração de meus trabalhos, me deparei com um texto complexo em todos os sentidos que está disponível no site da Prefeitura de Itaúna/MG. Assim, a narrativa histórica se apresentou confusa dificultando uma compreensão mais precisa. Após uma segunda leitura minuciosa, finalmente comecei a entender que o texto se tratava da “permuta de padroeiras” no município do século XIX. Mesmo tentando compreender a informação de que as “igrejas foram trocadas” naquela época, imagino que seria difícil transposição de duas construções, no entanto, dadas as informações de livros de história do município que registram esse acontecimento, percebi que seria uma troca de oragos, e não das edificações. 

Portanto, seria aceitável considerar isso como um mero “deslize histórico”, podendo até ser enviada uma mensagem à Secretaria de Cultura e Turismo de Itaúna, pedindo a retificação do texto, cujo material apresentado, nem sequer tiveram a preocupação de fornecer as referências adequadas e necessárias. À medida em que realizava a leitura mais atenta do texto, descobri que as informações, em parte, eram meramente baseadas em “achismos”, ou seja, um texto totalmente abstrato e desconecto da história do município. Porém, o mais alarmante ainda estava por vir, pois neste texto trazia uma declaração de que os negros naquela época “roubavam” dentro da igreja do arraial de Santana do Rio São João Acima, hoje Itaúna. Eis aqui, parte do trecho retirado do texto que está disponível no site da prefeitura de Itaúna:

“As igrejas foram trocadas. O problema é que os padres queriam manter as padroeiras. Sant'Ana, dos portugueses, agora era dos negros. Senhora do Rosário, dos negros, virou padroeira dos brancos. Os negros não aceitaram. Toda noite, entravam na Matriz e roubavam a Imagem de Nossa Senhora do Rosário e levavam para a nova Capela, no alto do Morro. Sendo lenda ou não, fato é que essa história inspirou a festa mais tradicional da cidade: o Reinado.”

Como mencionado no texto acima, sendo lenda ou não, se registrou que os pretos que faziam parte da comunidade de Itaúna eram ladrões. Neste momento ficou evidente que os (in)responsáveis desta informação, estavam totalmente equivocados. Este incidente representa, no meu ponto de vista, uma violação e rompimento significativo do limite histórico, cultural e ético em toda a história do município, minando as extensas pesquisas e documentações registradas por historiadores e pesquisadores ao longo dos anos. Vale ressaltar que no censo inicial realizado em 1831, aproximadamente 70% da população do arraial de Santana (hoje Itaúna) era de herança afrodescendente. 

Até o momento presente, não encontrei nenhum registro ou declaração de qualquer historiador ou publicação que indique ou declare que os pretos naquela época, tenham praticado roubos à paróquia de Santana de Itaúna. Ao analisar cuidadosamente essa “barbárie histórica”, expresso a minha mais profunda frustação e a minha preocupação com a gestão e divulgação da história do nosso município.  É provável que muitos indivíduos que pesquisaram a história de Itaúna, neste período em que continua disponível essa matéria no site da Prefeitura, tenham encontrado essas informações, que supostamente seriam de “utilidade pública”, principalmente para a comunidade itaunense. No entanto, este não é o caso. 

É imprescindível que essas informações sejam prontamente corrigidas. Proponho que os textos sejam referenciados de forma completa e correta. Além disso, recomendo expressar um sincero pedido de perdão por esta violação histórica da memória dos ancestrais e descendentes afro-brasileiros da comunidade itaunense, que são bens culturais inestimáveis, tangíveis e intangíveis, transmitidos através de gerações. Neste sentido, invoco as palavras do artista Belchior e peço permissão para incorporar duas palavras em sua canção “Roupa Velha Colorida”: No presente a mente, o corpo é diferente, e o passado de “insultos e acusações” é uma roupa que não nos serve mais... precisamos rejuvenescer!” Só assim, acredito que terei tranquilidade para retornar meus estudos e pesquisas, mas mantendo-me vigilante.  
Charles Aquino, em 6 de março 2024



Reinado em Itaúna


Nota: Ao apurar a postagem no site da Prefeitura hoje (11/03/2024), houve uma reformulação no texto, mas até o momento não foi registrada nenhuma nota referente à postagem antiga. Disponível em: Conjunto Arquitetônico do Morro do Rosário


Arte e organização: Charles Aquino
Imagem meramente ilustrativa: Pinterest


domingo, 25 de fevereiro de 2024

PÉRICLES RODRIGUES GOMIDE

Ou simplesmente LIQUE, nasceu em Itaúna, filho do Prof. José João Rodrigues Vieira e Leopoldina Gomide da Conceição. LIQUE foi dentista, músico, ator, autor e contrarregra teatral. Participou da famosa peça “AS CIGARRAS DO SERTÃO" ano de 1925.

Casou-se com Eponina Nogueira Gomide e teve 8 filhos: Orlando Nogueira Gomide, pintor; Elsa Nogueira Gomide, alta funcionário do Ministério da Educação e a quem Itaúna muito deve, pois, sua ajuda foi fundamental para o reconhecimento dos Cursos da Universidade de Itaúna; Sinésio Nogueira Gomide, durante muitos anos foi funcionário da Cia. Tecidos Santanense; Sóror Maria Imaculada Conceição, freira; Péricles Gomide Júnior, bancário e escritor e, como tal, adotou o pseudônimo de Pancrácio Fidélis. 

Durante muito tempo, escreveu crônicas sobre Itaúna no jornal "Folha do Oeste", de seu irmão PIU. Tais crônicas foram transformadas no livro "Crônicas e Narrativas de Pancrácio Fidélis", lançado na década de 60, e fez enorme sucesso; Sebastião Nogueira Gomide, o PIU, funcionário dos Correios como Telegrafista e em 1943 fundou o jornal "Folha do Oeste", onde era o proprietário, editor, redator e repórter.

O jornal circulou até sua morte e a viúva, Sra. Esther, (que era também sua prima em primeiro grau), vendeu para o jornalista José Waldemar Teixeira de Melo, que por sua vez o repassou ao jornalista Renilton Pacheco, que mudou o nome para "Folha do Povo" e circula até os dias de hoje; José Nogueira Gomide, engenheiro geólogo, funcionário da Petrobrás; Eponina Maria do Carmo Nogueira Gomide Soares, funcionária pública.

Por ocasião da decisão de qual seria o nome do atual Teatro Municipal do nosso município, houve uma corrente que defendia o nome de Péricles Gomide. Infelizmente não conseguiram, o que foi considerado uma enorme injustiça. Todavia a memória de LIQUE estará para sempre na história de Itaúna, pois, uma das ruas da cidade leva o seu nome.

Sua esposa Eponina construiu a capela da Imaculada Conceição, justamente à Rua Péricles Gomide. Na ocasião o terreno onde está erguida a capela pertencia e foi doado por LIQUE. Hoje a capela está um pouco descaracterizada pois foi construída quase na sua frente à casa onde reside o pároco de Sant'Ana. Na época da construção, parte da família tentou em vão, impedir. Não conseguiu.

Esta é, resumidamente, a história do grande ator PÉRICLES GOMIDE, o "LIQUE".

Uma Nota: Prof. Vilmar Aparecido de Sousa, o PITUCA, diretor e produtor teatral, muito conhecido em Itaúna, declarou textualmente sobre o LIQUE: “FOI O MAIS NOTÁVEL E RESPEITADO ATOR QUE JÁ PISOU NOS PALCOS DE ITAÚNA”

Prof. Juarez Nogueira Franco (In Memoriam)


Diploma: Instituto de Medicina Electrica, Cirurgia Dentaria e Massagem

 
PÉRICLES GOMIDE, que aqui iniciou os seus trabalhos, tendo praticado inicialmente com o Sr. Antônio José dos Santos e Miguel Alves, em viagens que os mesmos realizavam com percursos grandes. Nestas viagens trabalhou durante nove meses em Araxá, quando regressou, em 1902 instalou definitivamente o seu gabinete dentário em Itaúna.

Desde este período até o ano de 1944, trabalhou praticando a clínica e prótese, atendendo sempre na atual residência à Rua Antônio de Matos. Foi ajudante de Promotor de Justiça do termo de Itaúna, até ser instalada a Comarca. Ingressou como agente do Correio no ano de 1910 permanecendo até 1946, quando foi aposentado.

Foi também diretor de diversas corporações musicais que existiram naquela época, professor de música, compositor, tendo sido presidente do “Teatro Mário Matos” quando foi levada a revista “A Cigarra do Sertão”. Durante muitos anos foi ensaiador de peças teatrais. Compôs os seguintes dobrados: Dengoso, Gafanhoto, Itaúna. E as seguintes valsas: Eponina, 23 de agosto, Sorriso, muito popular em Itaúna.

Casado com D. Eponina Nogueira Gomide, tendo os seguintes filhos: Orlando Gomide, Sinésio, Sebastião, Péricles, Elza, Maria do Carmo e José. 

Tem em sua casa um diploma da Universidade Escolar Internacional, concedendo o direito de trabalhar como dentista, datada no Rio de Janeiro em 1º de março de 1913. Posteriormente foi concedida uma licença pelo Departamento Estadual de Saúde como prático licenciado.

Prof. William Leão (In Memoriam)


REFERÊNCIAS:
Revista Acaiaca: História da Odontologia no município de Itaúna. p. 146,147,148,149. Ano: 1954, Org. Celso Brant, Belo Horizonte/MG.
Pesquisa e organização: Charles Aquino.
Acervo: Professor Marco Elísio.
Textos: Prof. Juarez Nogueira Franco, Prof. William Leão.